Os Cock Robin recusam-se a entrar no baú das lembranças longínquas
13 - mar - 17
Na noite de ontem houve concerto no Coliseu de Lisboa; hoje segue-se o Porto.
Tal como acontece com aquela t-shirt meio foleira e desbotada que nunca tivemos coragem para deitar fora, também a música dos anos 80 volta e meia aparece-nos pela frente despertando aquele sorriso tonto que já nem sabemos bem porque se desenha mas a verdade é que não se disfarça.
A década trouxe alguns hinos que ficaram cravados para sempre na história da música e, alguns deles, são da responsabilidade do grupo que subiu ao palco do Coliseu dos Recreios, em Lisboa, na noite de quinta-feira, dia 9 de março: os Cock Robin que, um dia depois, repetem o espetáculo no Porto.
A banda (ou dupla) norte-americana, que já conta com 35 anos de carreira, sofreu um ligeiro revés quando, há cerca de dois anos, a sua co-fundadora da banda, decidiu deixar de tocar. A voz feminina e teclista de cabelos cor de laranja que agora sobe ao palco é a jovem francesa Coralie Vuillemin. Dá brilho à atuação conjunta, apesar da presença mais forte ser a do vocalista Kingsbery que, dizem alguns rumores, se terá apaixonado precisamente pelo cabelo da artista.
A longevidade dos Cock Robin pode ter várias explicações mas fugir ao passado não é uma delas. A nova dupla, aqui acompanhada por um baterista, começou a obter fortes aplausos logo à segunda canção da noite: ‘When Your Heart Is Weak’, do álbum com o mesmo nome, de 1985. Pouco depois, é tempo de dirigir uma piada ao atual presidente americano: “Vamos continuar com algo que vocês conhecem bem do passado porque juntos somos mais fortes… Uau, isto agora parecia um discurso de Trump”, diz Peter Kingsbery.
Estes momentos de humor e alguma conversa do cantor ajudam a quebrar alguma monotonia que aqui e além se instalou já que, apesar do público do Coliseu ser maioritariamente composto por gente na casa dos “entas” que procurou os êxitos do passado, os Cock Robin insistiram em apresentar vários temas do álbum novo, “Chinese Driver”, do ano passado. As canções, maioritariamente eletrónicas, eram desconhecidas para nós mas talvez o single que dá nome ao álbum tenha chamado mais a atenção por ter sido anunciado com a participação da filha do cantor, que também apareceu no ecrã gigante. De referir que além do ecrã o palco está muito simples, apenas com focos de luz a incidirem sobre os músicos e alguma (pouca) iluminação na lateral.
‘Janice’, ‘Straighter Line’ e ‘Bells of Freedom’ convidam a momentos de maior silêncio mas nas pausas para a afinação da guitarra, o cantor ainda obtém piropos - o clássico “és lindo” - que retribui com simpatia e… humor: “Obrigada pelo elogio tão cortês. Podias ter dito que gostavas do meu rabo e isso sim já era esquisito”, brinca com uma fã. Segundo os próprios Cock Robin, a mais recente passagem por Portugal tinha sido há seis anos e, como também reforçam, ainda está longe uma “farewell tour”.
Outras que se recusam a entrar num baú escuro e a cheirar a mofo são as músicas ‘I Thought You Were On My Side’ e ‘Remember The Promise You Made’ que aqui, ainda por cima, ganharam uma espécie de novas versões, mais difíceis de acompanhar, mas igualmente saborosas aos ouvidos. Aplaudidos de pé, dançados de pé e ovacionados de pé foi assim que os Cock Robin abandonaram o palco não sem antes haver um encore, mais melancólico, com ‘The Biggest Fool of All’, que mais parecia a banda sonora de um filme.
Fotografia: Hugo Dias ©